O alerta de Mapulu

“Estou muito preocupada com a água, porque a água é a vida. Se o rio acabar, eu não sei o que vai ser no futuro. Precisamos da água para a gente viver, para manter a vida das crianças, para que se tenha vida excelente. Eu quero preservar a água, as florestas, os peixes, para os meus netos, porque a nova geração vai precisar do meio ambiente, das águas que o Senhor Criador deixou para nós há muitos anos atrás.

Eu quero manter o rio vivo e a floresta, isso é a minha luta. Estou muito preocupada com o nível da água. As construções das barragens nos canais dos rios estão matando o rio, nosso rio Xingu. Estou muito preocupada porque a água é muito importante para todos. Os animais também estão procurando habitat dentro do Xingu, devido a destruição da floresta. Os animais estão sofrendo como a gente. Eles são como os seres humanos, precisam da água para sobreviver, precisam da floresta para buscar seu sustento.

A minha região está cada vez mais cercada pelos fazendeiros. Eu não quero que acabem com as florestas, não quero que acabem com a vida da água do rio Xingu.Na minha comunidade a população está crescendo. A gente precisa manter a nossa terra para poder levar essa vida boa que, nesse momento, ainda temos no Xingu. Isso eu não quero que acabe.

A barragem está prejudicando a nossa vida, reduzindo a população de peixes. Eu peço às autoridades: se vocês construírem mais barragens no rio, consultem a minha população. Nós não ficamos sabendo da construção da barragem que hoje está funcionando. Então eu peço para vocês que, no futuro, se vocês quiserem fazer mais barragens, consultem o povo indígena. Há muitos anos atrás o meu avô, o meu bisavô já sofreram com os não indígenas, foram massacrados por eles. Não quero que isso aconteça com a gente, eu não quero mais ver isso.

Eu sinto muito isso, fico muito triste quando meu pai conta essa história que aconteceu no passado – meu povo morreu; até hoje dói dentro de mim. Eu peço para os que estão ao redor da nossa reserva que respeitem a nossa floresta, nossa terra. Nós não invadimos a terra de vocês, nós respeitamos vocês, vocês têm que nos respeitar também. Eu também sou chefa, e nossa presidente da República é mulher, é minha companheira, ela também é chefa aqui do nosso país. Eu falo hoje para a Presidente ver os povos indígenas, respeitar as terras indígenas. Outros povos indígenas estão sofrendo mais do que os povos do Xingu; eu não estou somente olhando para o meu povo; eu falo isso em nome de todos os povos indígenas do Brasil”.

Pajé Mapulu, Liderança do Povo Kamayurá, Parque Indígena do Xingu – MT.