O Povo Hopi e a Aliança Sagrada

“Bom dia a todos, sou grata ao criador por ter nos dado esse belo dia e por estarmos todos reunidos aqui para aproveitar o momento. Eu escolhi ficar em pé porque é assim que me foi ensinado, é minha maneira de demonstrar respeito para os mais velhos e para as crianças ao falar de temas sagrados.

Este momento é chamado de momento de contar história. E para nós, povos indígenas, as histórias que guardamos são mais do que somente uma historia, ou do que uma lenda ou um mito. Foi assim que me ensinaram e então é desta maneira que eu saúdo vocês de todo o meu coração.[…]

Meus anciãos sempre me disseram que fazemos um fogo pequeno para que todos fiquem juntos e próximos em torno dele. Da mesma forma somos cuidadosos para decidir onde colocamos o fogo. […]

Houve um tempo em que os seres humanos, nós, vivíamos em outro mundo e tínhamos tudo que desejávamos para viver. Mas então nós destruímos aquele nosso mundo e a nós mesmos, como estamos fazendo agora. Então, alguns seres subiram rastejando para este mundo em que estamos hoje, e imploraram ao criador para viver aqui, porque aqui neste mundo havia tudo que precisávamos para viver: a água, o ar, o fogo, a mãe terra. Então imploramos ao criador para viver aqui. Primeiro o Criador disse ‘não, vocês já destruíram o mundo que vocês tinham’. Mas eles estavam tão frágeis, de joelhos, pedindo pela vida, e então o Criador teve pena deles e disse ‘vocês podem viver aqui, mas tem que fazer uma promessa: vocês vão cuidar deste mundo e não devem fazer do mesmo modo como fizeram no outro mundo, que destruíram’. Então esta foi a promessa feita. Os Hopi a chamam de Aliança Sagrada. O Criador nos deu então uma cabaça cheia de água, a semente do milho e um bastão de arar a terra e foram quatro cores de Homens que vieram aqui receber essas coisas: os vermelhos, os amarelos, os negros e os brancos. E o Criador disse a eles: ‘vocês devem ir em frente, partir no mundo e encontrar o seu lugar, e aprender como se deve viver aqui neste mundo’. Então os irmãos partiram para as quatro direções. Então haviam instruções dadas, chamadas de Instruções Originais. E foi dito a eles que quando aprendessem a morar nos quatro cantos do mundo deveriam sempre guardar as Instruções Originais a frente de tudo que fizessem. O Criador disse: ‘vai chegar uma época em que vocês vão voltar a se encontrar. E vocês contarão uns aos outros o que fizeram, onde vocês viveram e o que vocês aprenderam sobre o mundo. E contarão como fizeram para preservar as Instruções Originais. Talvez alguns de vocês esqueçam as Instruções Originais, mas voltem e juntem-se nesse círculo, novamente, com seus irmãos, assim mesmo. Porque aqueles que mantiveram as Instruções Originais e cuidaram do mundo da maneira como deveria ser, vão ter que ser bons parentes e contar, novamente, sobre as Instruções’.

Então, esta tem sido a nossa experiência. Nós estávamos nesse momento do começo, da entrada neste mundo dos seres humanos, e a razão pela qual estamos aqui hoje, em parte, é para preencher essas instruções originais. Pessoas de diferentes nações estão sentadas aqui neste círculo, tem aqueles aqui que preservaram suas instruções originais. Eles sustentam os seus ensinamentos, tendo respeito por toda essa criação: a água, o ar, o fogo e a terra, e agora, estamos em uma época onde vemos as águas sendo envenenadas, sendo represadas por diques e barragens, estão inclusive secando. Isto é o que estamos assistindo no mundo hoje em dia. […] Vemos os fogos por toda nossa volta, sendo que esse fogo não é usado para uma fogueira sagrada. Vemos o ar sendo poluído com substâncias tóxicas, vemos a terra diminuir os produtos que oferece […].

O tema, portanto, pelo qual devemos refletir hoje, é que estamos todos interconectados. […] Me disseram que há uma prece que foi feita para mim pelos meus ancestrais. E esta prece é também para todos nós. Ela diz:

‘Criador, abençoe as minhas gerações futuras, as que estão por vir, aquelas que eu não verei’.

É por isso que estamos aqui agora, por causa das preces que foram feitas. E é nossa responsabilidade fazer essa mesma prece. Esse é o sentido que o Conselho Internacional das 13 Avós Nativas leva consigo. Nós viemos aqui e viajamos por diferentes partes do mundo com essa prece. E estamos muito agradecidas por vocês terem vindo para se juntar conosco nesta prece”.

Avó Mona Polacca