“Temos que nos tornar mais conscientes quando consumimos” Avó Pauline

“Irmãos e irmãs, falo buscando uma conexão espiritual.

O rio pára quando a gente não age.  Confúcio disse: “Você enxerga, você escuta, mas qual é a sua ação?”. A ação que devemos tomar hoje em dia é olhar para os ecossistemas e tentar enxergar como podemos fazer coisas para fazê-los florescer.

Na minha comunidade temos uma escola pequenina. Duas vezes por ano as crianças saem com sacos e recolhem todo o lixo da nossa península, e também plantam árvores. Elas começaram as suas ações porque estão fartas, enojadas com os barcos que passam pela nossa península jogando seus dejetos pessoais. As pessoas que vem visitar a região, jogam fora as fraldas descartáveis de seus nenês no mar – que é a nossa água abençoada – para nossa comida e todas as coisas para as quais usamos a água. Eu tenho muito orgulho dos nossos jovens, eles são verdadeiros conservacionistas. Para ser um ambientalista você tem que botar a boca no trombone.

Essa mesa é redonda como a roda de uma bicicleta, que tem muitos eixos que a fazem girar, que se complementam. Tanto no local, na casa das pessoas, como no global, longe da casa, tem gente que mantém o fogo aceso, que cuida desse fogo. Têm as pessoas que atuam politicamente, tem aquelas que andam ao redor do mundo curando e recolhendo ideias de como tornar o mundo um lugar mais rico. Tem pessoas que são os olhos e os ouvidos do mundo, estão à escuta e à procura do que está acontecendo de negativo no planeta. Essas pessoas tem uma responsabilidade de desafiar os governos do mundo e os órgãos das Nações Unidas.

 Não é mais aceitável que organizações como a Unesco, o Banco Mundial e as Nações Unidas, que é composta pelas centenas de governos que existem no mundo, dêem dinheiro para a construção de barragens, para as companhias químicas fazerem tecidos sintéticos que consomem quantidades infinitas de água.

Eu pergunto: Quantos de vocês estão usando roupas feitas de tecidos sintéticos?  Quantas de vocês usam fraldas descartáveis nos seus bebês? Quantos de vocês usam jeans? Quantos de vocês bebem Coca-Cola?

Somos todos responsáveis. Somos todos responsáveis pela destruição da água que o Criador nos forneceu e temos que nos tornar mais conscientes quando consumimos. Devemos prestar atenção na embalagem dos produtos. Porque quando a gente sai pelo mundo, ou em nossas comunidades mesmo, quantos depósitos de lixo a gente vê nos lugares e nos rios?  É no consumo que começa. De outra maneira a gente poderia chegar diante do governo e dizer: Olhe só, nas nossas reservas indígenas não estamos jogando nenhum lixo, então porque vocês podem fazer isso, jogar lixo e também impedir os nossos rios de fluírem livremente?

Eu estou cheia dessa palavra Consulta. Os governos escutam o que a gente tem a dizer, mas falam assim: Nós vamos fazer o que a gente tem que fazer de qualquer maneira!A tomada de decisões tem que ser feita pelo povo, junto com o povo e a favor do povo.

O amor a paz e a caridade andam juntas. Então não dá para separar o meio ambiente do ser humano, nós somos uma coisa só. Na minha cultura tudo é como aquela roda de bicicleta. Eu me solidarizo com a Pajé Mapulu porque as barragens não podem impedir as águas de fluírem livremente”.
Avó Pauline, Povo Maori, Nova Zelândia.