Oficina “Rio da Vida”

Atividade Pedagógica com as crianças sobre a temática da Água

A Oficina focalizada pela professora Vera Catalão reuniu 20 jovens alunos do Centro de Ensino Fundamental Agro-Urbano e cerca de 20 crianças que estavam no evento acompanhadas de seus pais, na tarde de domingo, no terceiro dia de evento.

Segundo a professora Vera Catalão, a ideia central da atividade foi olhar e pensar a vida como um curso d’água, com o propósito de religar-se à nascente, abrir-se ao fluxo e projetar a foz:

A intenção de ligar história de vida e a trajetória dos rios permite uma nova criação sobre a história de vida de cada pessoa, seguindo o fluir das águas para descobrir o sentido do seu próprio curso, da sua própria história”. 

A oficina iniciou-se com um círculo dos participantes ao redor do traçado de um grande rio, feito em um papel com cerca de 5 metros de comprimento,  desde a nascente até a foz, com seus remansos e meandros, canyons e vales. A professora falou sobre o curso dos rios, a configuração das bacias hidrográficas e sua relação com o corpo humano, o papel da água na vida planetária e o entendimento dos vales como espaço de confluência e de encontros. Abriu-se um diálogo sobre as representações dos jovens sobre a água. Em seguida os participantes foram convidados a desenhar uma bacia hidrográfica que representasse o “rio da vida”, criar afluentes e povoar de vida o grande rio: da nascente até a sua foz.

Ao final do desenho, cada participante falou sobre os sentimentos que emergiram e o significado da sua intervenção sobre o grande rio. Para concluir, construíram as perguntas que desejavam levar ao Conselho das Avós, que foram sintetizadas pelo grupo em duas grandes questões: o que nós humanos podemos fazer para cuidar das águas do nosso lugar e do planetacomo cuidar das nossas águas internas?

Ao término deste momento da oficina, os jovens foram encontrar-se com as Avós do Conselho Internacional e perguntaram:

– Como cuidar das nossas águas internas?

Quem respondeu foi a avó Beatriz Lakota:

– “Sempre falo sobre a paz. Sempre digo que devemos trazer a paz em nós mesmos, para poder trazê-la na relação com os outros. A paz começa dentro de cada um de nós. O povo Lakota usa o cachimbo da paz para rezar. A palavra Lakota significa paz. Esse é o nome do meu povo. Os Lakota acreditam que o cachimbo da paz foi trazido há muitos anos atrás por uma mulher que eles chamam de “mulher búfalo branco” – o espírito da fêmea do búfalo branco jovem. Quando ela trouxe, chamou dois guerreiros e pediu a eles que levassem o cachimbo para a aldeia. Disse que eles deveriam ter o Lakota com eles. Que deveriam ter a paz dentro de si, para tê-la em relação aos outros. […]

Precisamos cuidar uns dos outros. Não importa qual a cor que a gente tenha. Somos todos seres humanos, ninguém é melhor do que o outro. A palavra paz tem uma longa história, remonta a um tempo muito antigo. Para poder definir a paz é preciso tê-la em seu coração. Eu tento colocá-la em prática na minha vida. Minha filha e eu usamos o cachimbo da paz no ritual da Dança do Sol que a nossa família pratica. […]  Eu rezo com esse cachimbo e honro o Criador por nos ter colocado aqui. Essa é minha vida, minha e da minha família.

Após a resposta da Avó Beatriz Lakota,  Vera Catalão se expressou em relação à Oficina:

“Somos de um grande grupo chamado Centro de Estudos Transdisciplinares da Água. A base dos saberes que nos reúnem é o encontro, a escuta, a capacidade de saber que todos podem de alguma maneira trazer para dentro de um grupo: afirmar o seu saber e compreender o saber do outro. Essa pequena oficina que fizemos hoje no Encontro A Voz das Avós foi organizada para ser uma oficina voltada para os jovens do Centro de Ensino Fundamental- Agro-Urbano, e as crianças chegaram. De repente aconteceu um diálogo entre os jovens e as crianças de 5, 6, 7 anos (…). Todo o diálogo é possível, basta que o coração esteja aberto como a água para receber outras águas”. Vera Catalão, educadora, coordenadora do projeto de educação, pesquisa e extensão universitária da Universidade de Brasília  “Água como matriz ecopedagógica”.