Resgate das tradições Kuntanawa

“Trago o sentimento de uma verdadeira e profunda história de minha gente. Tivemos que voltar 100 anos para buscar uma história que ficou guardada no conhecimento dos velhos.

Graças aos ensinamentos de minha avó eu tenho aprendido a respeitar, a amar cada pessoa e me ver representado em cada um de vocês. E ninguém melhor para representar a gente do que nossas avós. Vocês trazem pra gente a esperança de que nós jovens ainda temos muito para viver. Olhando os ensinamentos que vocês trazem, olhando os gestos de amor que vocês carregam verdadeiramente dentro do coração, nos inspiramos a aprender a como viver neste planeta. Nós, povos indígenas, lutamos muito pela proteção da biodiversidade, do ambiente como um todo, porque acreditamos que somos parte de toda a história do universo.

Em nome da minha avó, quero deixar a mensagem de que ainda acreditamos que o planeta não está perdido. Mas é preciso que as pessoas acordem, é preciso que as pessoas tenham esse sentimento do sagrado, é preciso saber respeitar a natureza. Respeitar a natureza não significa só respeitar a floresta, respeitar os rios, e sim respeitar todos os seres, os espíritos desses seres, por que são eles que nos fazem vivos, eles que nos trazem a energia da convivência. Nossos ancestrais não são apenas pessoas. Nós não vemos nossa ancestralidade somente nas pessoas, nós vemos nossa ancestralidade em tudo. É assim que nossos sábios nos ensinam. Eles dizem que nossos velhos quando morrem, eles estão nas árvores, eles estão na terra, ele estão nas estrelas, eles estão no sol, eles estão na lua, eles estão em todos os elementos. E nós olhamos para a natureza com esse respeito, com essa sensibilidade de saber que nós estamos em tudo.

Nossa história não está escrita em papel, nossa história é escrita na nossa consciência e nós guardamos com muito cuidado para que seja mantida de geração para geração. A história do povo Kuntanawa, como de muitos povos que estão aqui, não foi uma história muito fácil. Imagina o que é tirarem de um povo o direito de viver como uma tradição viva e de praticar seus costumes. Nós fomos interrompidos em 1911, exatamente agora está fazendo um século. Nós somos a prova viva de que é possível uma nação se reerguer, um povo se reerguer e que nossos espíritos nunca morrem. Eles estão sempre vivos dentro de nós. Assim diz minha avó, assim diz meu avô, assim diz meu pai. Se a gente deixar o coração falar, buscar no nosso espírito, a gente encontra com eles por meio das nossas medicinas sagradas, através dos ensinos que nos foram deixados, e que hoje muita gente compartilha. Foi através das nossas medicinas sagradas que nós encontramos a solução. E quando a gente se integra, a gente se junta, a gente se une, a gente tem força para lutar, a gente é grande. Sozinho a gente não tinha nem nascido. Então, quando a gente se junta, temos a esperança de que podemos dar mais um passo a frente.

Quero dizer que o povo da Amazônia está conectado com o povo do gelo, com o povo do frio e com todo o povo do planeta.  Que nós estamos lutando. E a sabedoria deixada pelos nossos ancestrais, hoje nós jovens carregamos viva dentro de nós.”